4 de dez. de 2009

Juros do crédito pessoal, Lula e um banco mexicano



Dê uma volta pela cidade... Repare nos anúncios... Dinheiro fácil! Crédito a jato! Sem SERASA e SPC! Zero de burocracia! E os juros? “O nosso é o melhor do mercado!”, dizem todos. Com ofertas assim, quem pode resistir?


É pena, mas um excelente serviço prestado pelo Banco Central em seu site na internet não tem merecido a devida atenção dos pretendentes a crédito: a divulgação das taxas de juros praticadas pelas instituições financeiras nas principais modalidades. Lá se pode verificar, por exemplo, as taxas efetivas de juros do crédito pessoal no período de 16 a 20.11.2009. Dentre as 92 instituições que prestaram as informações, destaco as 4 últimas do ranking:

- Banco Azteca do Brasil: 16,45% ao mês (ou 521,83% ao ano);

- Sax CFI: 16,62% ao mês (ou 532,81% ao ano);

- Crefisa: 20,64% ao mês (ou 850,38% ao ano); e

- Cetelem Brasil: 20,70% ao mês (ou 856,06% ao ano).


As diretorias dessas empresas podem até tentar justificar essas taxas com discursos sobre inadimplência, cunha fiscal ou riscos envolvidos no negócio. O fato é que com a SELIC em 8,75% ao ano, taxas de juros nesses níveis são imorais e deveriam mesmo ser proibidas, tamanha é a desproporção do spread. Em casos como esses, as "naturais acomodações do mercado" têm que ser mandadas às favas. E mais: com “crédito fácil” a juros de 850% ao ano, a inadimplência deveria ser obrigatória por lei.


E por falar no Banco Azteca, do bilionário mexicano Ricardo Salinas, lembrei de sua inauguração, ocorrida aqui em Pernambuco em março de 2008, evento prestigiado pela presença do presidente Lula. O presidente iniciou seu discurso (quem quiser conferir, acesse www.info.planalto.gov.br e pesquise em “Discursos e Entrevistas”) justificando sua participação: “Não é habitual no Brasil um presidente da República inaugurar uma agência bancária ou uma loja comercial, a não ser que seja banco público”. De vez em quando, nós vamos inaugurar coisas do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica Federal. Mas quando eu conversei com o Ricardo Salinas, em Brasília, e ele me dizia da vontade que tinha de entrar com o Banco Azteca no Brasil e tentar criar uma nova cultura de bancarização popular e, ao mesmo tempo, contribuir para reduzir as taxas de juros aqui no Brasil para o consumo popular, eu fiquei com entusiasmo.”


Com efeito, a presença de um Presidente da República na solenidade de inauguração de um banco privado pode ser considerada como um fato estranho, mas vá lá... O que assusta, no entanto, é a cândida inocência do nosso mandatário, ao acreditar (será mesmo?) nas palavras do 3º homem mais rico do México, que afirmava ter vontade de contribuir para reduzir as taxas de juros aqui no Brasil. O esperto mexicano estipula parcelas em pagamentos semanais, uma espécie de anestesia para a dor, ou uma punhalada gradual. Com 521,83% de juros anuais, tenho certeza de que os brasileiros certamente desejariam que essa “cruzada contra os juros” ficasse restrita às terras mexicanas. Afinal, se é para atrapalhar, já temos gente demais aqui no país.



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